sábado, 8 de maio de 2010

MEMORIAL DE LEITURA

Memorial constitui, pois, uma autobiografia configurando-se como uma narrativa simultaneamente histórica e reflexiva. Deve então ser composto sob a forma de um relato histórico, analítico e critico, que dê conta dos fatos e acontecimentos que constituíram a trajetória acadêmico-profissional de seu autor, de tal modo que o leitor possa ter uma informação completa e precisa do itinerário percorrido .
SEVERINO


Eu não fui apresentada à leitura com pompas ou relevâncias devida, porque na época em que fui apresentada formalmente às letras, o mundo escolar não era povoado por livros ou outro atrativo igual.
Por isso, preferia fazer outras coisas, ao invés de ler. Os anos foram se passando e aos poucos fui inserida nesse mundo que ora se descortinava; sem muitos atrativos, é verdade, mas que me era apresentado.
Quando iniciei propriamente minhas modestas leituras, tinha problemas para ler algumas palavras, principalmente as iniciadas por PR, porque meu pai, por achar bonito, ensinou-me a gaguejar, e isso veio de encontro à fala e logicamente à leitura de determinadas palavras. E minha Mãe, pessoa leiga no assunto de gagueira na época, não deu devida atenção a este distúrbio.
Cresci vivendo neste mundo conturbado de falas titubeadas e leituras tímidas. E foi a partir dos meus 13 anos que criei gosto pelas leituras. Paralelo a isso, acontecia uma coisa engraçada: desenvolvi o gostoso hábito de escrever: escrevia histórias e poesias.
Em Cruzeta havia um senhor, Seu Evaldo de Oliveira, que possuía em sua casa uma biblioteca com um vasto acervo bibliográfico. Ele emprestava livros para toda a comunidade, mas observava a idade de cada leitor, para não emprestar livros considerados impróprios para essas idades.
Assim, durante a minha adolescência tornei-me uma freqüentadora assídua da biblioteca desse senhor – BIBLIOTECA CARMEVAL -, lendo tudo o que era indicado para a minha idade: Poliana menina, moça, contos de fadas, e todo gênero textual que me fosse apresentado. Anos mais tarde adentrei na literatura de Adelaide Carraro; gêneros românticos de Júlia, Sabrina, Bárbara cartland, Contigo, e da revista mais lida na época: SÉTIMO CÉU, feita de telenovelas e como eu gostava de novelas eu procurava ler as que eu conseguia emprestadas (não tinha como comprar). A revista tinha acordado a minha imaginação e eu tinha me tornado leitora, quer dizer, um ser de imaginação ativa, criativa. Fui também apresentada por uma amiga – Simara -, gêneros literários, (ela deu-me o Guarani, de José de Alencar); Aluízio Azevedo, Drummond (que curto até os dias atuais); literatura universal Ágata Christie, Shakespeare, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry e outros tantos. Essas leituras acompanharam-me por todo o ginásio, 2º grau e na função de professora, uma vez que fui convidada a lecionar literatura exatamente pelo fato de ser conhecedora de diversas obras literárias. A partir de então aprofundei cada vez mais minhas leituras literárias.
Quando entrei pra faculdade, o meu contato com livros se tornou mais intensa, porque lá o acervo literário é vasto. Conheci a literatura portuguesa (Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz) e todo o universo mágico dos livros veio ao meu encontro. Eu estava fascinada e louca pra ler cada vez mais. A literatura me mostrou o caminho a seguir. E eu me perguntava: Por que ninguém nunca nos apresentou antes?
Ah! Então li bastante e conheci muita gente importante: Platão, Aristóteles e sua lógica, Machado de Assis, Cecília Meireles, Clarisse Lispector, Guimarães Rosa, Dantes Alighieri, Virginia Woolf, Monteiro Lobato, Lya Luft e muitos outros que estão no meu coração vivendo e deixando maravilhas.
Estudei muito, apresentei trabalho dentro e fora da faculdade, participei de cursos, de palestras sobre a leitura e li o mundo. Descobri que o universo estaria em minhas mãos em um estalar de dedos.
A leitura finalmente me encontrou e me enfeitiçou. Foi difícil adquirir o gosto, pois esse gosto poucos possui. Falo do prazer que ela exerce, da interação que existe entre texto e leitor, esse prazer move montanhas.
Sou uma professora que um dia sonhou em ser professora. Isso me faz lembrar-se de um poema de Vinícius de Moraes chamado Velhice, que diz assim: “Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente/ Olhando as coisas através de uma filosofia sensata/e lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.”
Atualmente leio tudo o que me apetece: desde os paradidáticos até A Cabana, e Dom Quixote, últimos livros lidos. Nada me faz pensar duas vezes, quando o assunto é leitura.
RENILDA

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